domingo, 22 de novembro de 2009

116. OLYMPIA (1938) PARTE 1 - ÍDOLOS DO ESTÁDIO ; ...


Olympia (1938, de Leni Riefenstahl), a cada sequência, transcorre sobre uma linha bastante tênue: o de não ser, diretamente, o que a premissa nazista propunha para, inevitavelmente, transformar-se no que o gênero de cinema que sua poesia às avessas encerra tem de fundamental enquanto possibilidade de registro do mundo histórico. Rodado no decorrer dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, o segundo trabalho de Leni Riefenstahl no âmbito do cinema documental constitui-se, antes de tudo, num canto de amor e perfeição ao esporte e, por extensão, as Olimpiadas e seus heróis. Assim, concretiza-se, a cada plano, foco e movimento dos corpos em quadro, como uma ode a beleza extrema do corpo humano na superação de sua força e limite e, talvez, como a confluência mais precisa e lírica entre poesia e registro na História do Documentário. Assim, desenvolve-se, ora, como documentário poético, ao fundar seu dispositivo, na quase totalidade de suas seqüências, na imagem em si (em sua composição, esteticismo e linguagem), ora, como cinema de registro, vinculado, ao mesmo tempo, aos eventos e modalidades atléticas das olimpíadas daquele ano (como um arquivo que, também, suas imagens constituem).



Composto por duas partes, respectivamente, dedicadas aos ídolos do estádio e aos vencedores olímpicos, Olympia se organiza como uma moeda de duas faces. Na primeira parte, propositivamente, vemos um filme demarcando as nacionalidades e seus heróis, os campeões e derrotados, sendo as seqüências dos lançadores de dardos, martelos e pesos as mais emblemáticas do cinema, aparentemente, como propaganda política e fundada no caráter racial. Já na segunda, o herói, o campeão e a nacionalidade estão diluídas com a ênfase em esportes mais coletivos e o foco em momentos de preparação e intimidade, onde não aparecem nem o herói na figura do indivíduo e/ou a nação estampada em um representante, sendo, neste caso, a seqüência dos velejadores com os barcos e suas velas padronizadas a mais significativa. Mas, essa divisão, na verdade, não é tão didática, pois a ênfase que é dada aos vencedores americanos na primeira e segunda partes, conseqüentemente, contrapõe-se ao que se esperava de um filme nazista, cujo enfoque, respectivamente, poderia ser dada na raça ariana e na Alemanha e não no imbatível atleta americano Jesse Owens e/ou nos Estados Unidos da América enquanto nação campeão no decalto através de um de seus atletas.



Talvez porque os resultados dos jogos olímpicos de 1936 tenham caminhado para uma direção não esperada pelo Estado Nazista (fundado na exaltação da nacionalidade alemã e no arianismo como proposta racial perfeita e imbatível) que, em Olympia, Leni Riefenstahl não teve como dar tanta ênfase a Alemanha e aos seus heróis perfeitos. Se algum herói ganhou destaque no dispositivo de Leni Riefenstahl foi o negro americano Jesse Owens com suas quatro medalhas de ouro que a montagem poderia ter omitido e que, segundo a lenda, não recebeu do Fuhrer as honras que todo vencedor olímpico receberia em outra ocasião. Com isso, propositivamente, realizado como filme de propaganda política, com a ênfase inicial na competição entre as nações a partir de seus heróis e, na abertura, com o foco na famosa saudação a Hitler e a alguns de seus generais (ainda que, discretamente, vê-se Goebbels nas arquibancadas do estádio olímpico), paulatinamente, percebe-se uma mudança na câmera de Riefenstahl. Se o que suas lentes buscavam, inicialmente, a partir do documentário poético focando a Nação e a Raça vencedora, não consegue realizar-se, historicamente, o que se vê é uma câmera transcendendo a ideologia e o cinema apenas como poesia visual.



Assim, em Olympia, um documentário se constrói em abismo, onde, ao longo de suas seqüências e segmentos, os modelos do cinema documental adotados, inevitavelmente, entram em conflito, ao construírem e desconstruírem a proposta inicial do seu dispositivo. De modo que, ao passar da propaganda a poesia e da poesia ao registro documental, o trabalho de Leni Rienfenstahl, a cada prova olímpica, supera os limites de sua proposta e modelos estéticos na mesma intensidade e com a mesma força que os corpos dos atletas superam seus limites e obstáculos. Portanto, com a impossibilidade de configurar o seu dispositivo, única e exclusivamente, no cinema de propaganda política (pois logo o ritual nazista de louvação e ovação a nação alemã e ao Führer se dissipa) e, em seguida, no documentário apenas como espaço, eminentemente, poético (com a plasticidade e movimento dos corpos dos atletas, cuja variação da planificação e angular quase que imprime um idealismo corporal e humano), Leni Rienfenstahl compõe um filme que, antes de tudo, é um registro do mundo histórico: em forma poética, é verdade, mas, ao mesmo tempo, como arquivo documental imprescindível sobre um tempo, concepção de homem e de cinema.
http://seladeprata.zip.net/arch2007-04-22_2007-04-28.html
 http://www.imdb.com/title/tt0030522/
Olympia 1. Teil - Fest der Völker
Ídolos do estádio - 1ª parte (PT)
Olympia (BR)

Alemanha Alemanha
1938 ı  pb ı  121 min
Produção
Direção
Leni Riefenstahl
Roteiro/Guião
Leni Riefenstahl
Elenco
David Albritton
Jack Beresford
Adolf Hitler
Henri de Baillet-Latour
Género
documentário
Idioma
inglês

IMDb

 


Torrent
http://www.mininova.org/tor/1519796
youtube
http://www.youtube.com/user/TiochfaidArLa#p/u
















Um comentário:

  1. Amigos
    mininova informa
    Torrent not found...
    The torrent you requested (id: 1519796) does not exist in our database.
    Antecipo agradecimento por avisar-me do Re_Up
    grato
    amicuscine

    ResponderExcluir