terça-feira, 17 de novembro de 2009

100. SABOTAGEM (1936)



Em primeiro lugar, vale esclarecer o seguinte: quando foi lançado originalmente no Brasil, essa obra recebeu o título de O Marido era o Culpado. Mais recentemente, quando do lançamento em DVD, o filme foi batizado de Sabotagem, tradução literal do título original, Sabotage. O que temos em Sabotagem é uma estória de gato e rato, em que um policial disfarçado tenta desmascarar um terrorista, envolvido este em um plano para detonar uma bomba em Londres. O terrorista é casado, mas sua esposa não sabe sobre suas atividades ilegais.
Pertencente à primeira fase inglesa da carreira de Hitch, Sabotagem poderia muito bem acabar sendo relegado ao grupo dos filmes menos notáveis do mestre. Temos aqui alguns vislumbres do talento do diretor para a composição de ambientes e para a exposição, quase ao nível da dissecação, dos sentimentos de seus personagens. Entretanto, a estória em si não apresenta nada de particularmente inspirado, e o elenco é possivelmente dos mais fracos com que Hitchcock já trabalhou.
O que coloca Sabotagem no mapa, por assim dizer, se resume a uma seqüência. O cunhado do terrorista, um garoto de não mais que dez anos, recebe a incumbência de entregar um pacote. O espectador sabe se tratar da bomba, e que ela será ativada por um timer. Enquanto caminha pelas ruas de Londres, o garoto vai sofrendo contratempos, enquanto os minutos se passam e vida e morte lentamente se aproximam com o passar dos ponteiros de um relógio. Hitchcock consegue criar um crescendo de tensão que atinge um nível praticamente insuportável, antes de alcançar seu clímax. E esse clímax deixa a platéia com a sensação de que algo realmente saiu errado, de que não era aquilo que deveria ter sido filmado. Trata-se, sem exagero, de uma das melhores cenas da carreira brilhante do diretor.
Mas isso diz respeito à forma. Algo mais a destacar essa cena é o conteúdo. Em praticamente toda a obra de Hitchcock, a vida humana é tratada com indiferença. Pessoas morrem, e isso serve apenas para motivar ações. Apenas em Sabotagem e, em menor grau, em Agente Secreto, Hitch reflete sobre o valor da vida e sobre o impacto da morte. Especialmente em Sabotagem, a perda de uma vida é medida pelo impacto que ela causa sobre os vivos, trazendo a tona desespero, raiva, vergonha, frustração. A morte não é apenas um evento que prenuncia uma nova jornada para os personagens, é um marco que coloca em xeque suas crenças, e altera sua postura com relação à vida e com relação aos demais personagens. Tanto que essa morte acaba sendo determinante para o desfecho de uma trama política muito mais extensa do que a vida do personagem morto poderia influenciar.
O próprio Hitch comentou essa cena, classificando-a como “um erro”, em função da recepção negativa do público. Exímio na arte de conduzir platéias, o diretor, nesse caso, as presenteou com algo que elas não queriam ver, e se arrependeu. Em seus trabalhos seguintes, ele não mais eliminou personagens destinados a ser estimados pelo público. A questão é que, se esse foi um erro, foi talvez o erro mais bem sucedido da história do cinema, pois, por mais que o público possa ter desgostado, não é função da arte oferecer sempre beleza e finais felizes. E o resultado final, em Sabotagem, dessa subversão da regra básica do filme popular é de um valor artístico destacado.
No fim das contas, Sabotagem acaba tornando-se praticamente uma lição de cinema, uma vez que mostra como uma cena, uma opção narrativa, pode transformar algo essencialmente simples em algo diferenciado, merecedor de atenção e de análise. Era Hitch fazendo história, antes mesmo de se tornar o maior.
Sinopse:


Este filme de Hitchcock relata um mistério que se desenvolve em um quieto subúrbio de Londres.
Karl Anton Verloc (Oskar Homolka) e sua esposa (Sylvia Sydney) são proprietários de um pequeno cinema. Mas a senhora Verloc não sabe que seu marido tem um segredo que vai afetar seu relacionamento e também
vai ser uma ameça a vida do irmão adolescente dela que mora junto com o casal. A Scottlando Yard possui a informação que o discreto senhor Verloc é na verdade um sabotador que está prestes a colocar em ação um plano que vai causar morte e ferimentos a muita gente na capital inglesa. A Yard precisa deter a ação maléfica de qualquer jeito, mas o problema é descobrir onde e quanto ele vai plantar sua arma mortífera. A polícia e a esposa do sabotador sabem muito pouco dos detalhes que se ocultam na sua missão que visa matar gente inocente. Sabotador é um filme arrebatador e obrigatório para aqueles que querem se aprofundar na obra de Alfred Hitchcock, o mestre do mistério. 


Elenco:

Sylvia Sidney ... Mrs. Verloc
Oskar Homolka ... Her Husband
Desmond Tester ... Her Young Brother
John Loder ... Ted
Joyce Barbour ... Renee
Matthew Boulton ... Superintendent Talbot
S.J. Warmington ... Hollingshead
William Dewhurst ... The Professor 

Informações Técnicas:

Título no Brasil: Sabotagem
Título Original: Sabotage
País de Origem: Inglaterra
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 75 minutos
Ano de Lançamento: 1936
Estúdio/Distrib.: LWE
Direção: Alfred Hitchcock 


Dados do Arquivo:

Audio: Inglês
Legenda: PtBr
Arquivo: RMVB 
Rapidshare em 4 partes



Nenhum comentário:

Postar um comentário