sábado, 14 de novembro de 2009

071. RUA 42 (1933)




"A Rua 42" ocupa um lugar especial na história do cinema musical. Tornando-se um hit no início dos anos 30, a sua fórmula do suceso foi repetida em filmes posteriores.

O filme musical se apresenta como um gênero essencialmente americano ou de Hollywood. A tradição do musical norte-americano procede da opereta Européia (particularmente Austríaca) e do Vaudeville Americano (teatro de variedades). No contacto com o Novo Mundo, o romantismo musicado da Europa ganhou graça e leveza numa gradativa evolução de humor, espontaneidade e atualização coreográfica.

Os musicais da primeira fase trouxeram do teatro de variedades, não só as canções e as coreografias, mas também o próprio estilo.

Vaudeville foi um gênero de entretenimento de variedades muito popular nos Estados Unido e Canadá no período que vai de 1880 ao início dos anos 30.Desenvolveu-se a partir de muitas fontes, incluindo salas de concerto, apresentações de cantores populares, “circos de horror”, museus baratos e literatura burleca. A cada noite, diversos números eram levados ao palco, sem nenhum relacionamento direto entre eles. Entre outros: músicos(tanto clássicos, quanto populares), dançarina(o)s, comediantes, animais treinados, mágicos, imitadores, acrobatas, peças em um único ato ou cena de peças, atletas, palestras dadas por celebridades, cantores de ruas e filmetes.

Tecnicamente, o musical combinou formas americanas de balé (dança de salão, sapateado e bailado acrobático) com a ópera cômica e romântica. Numa combinação de fantasia e realidade, os primeiros musicais conquistaram uma plateia fiel e ganharam enorme audiência, pois as pessoas precisavam aliviar a pressão do dia-a-dia buscando uma forma de entretenimento que as ajudassem a enfrentar a Grande Depressão Americana.

Historicamente, o musical nasceu com o cinema sonoro. “O Cantor de Jazz”(1927) de Alan Crosland, inaugurou ao mesmo tempo o cinema falado e o cinema cantado.

Entretanto, “The Broadway Melody”(1929), de Harry Beaumont, é considerado o primeiro filme totalmente falado, cantado e dançado que determinou o musical como um gênero viável de Hollywood, . “Broadway Melody” deu ao gênero uma nova respeitabilidade e foi o primeiro filme falado a ganhar um Oscar de Melhor Filme. O sucesso foi tão grande que acabou gerando outros três “Broadways Melodies” (1936, 1938, 1940).

O musical se firmou nos Estados Unidos segundo o modelo dos espetáculos da Broadway, estabelecendo as tradições dos bastidores musicais como parte integrante de um musical, os produtores achavam que o expectador apenas compreenderia o filme musical se assistisse como ele era feito.

Apesar das ótimas canções “You Were Meant for Me” e “Broadway Melody”, de Athur Freed ( escritor das letras) e Nacio Herb Brown(compositor ao piano), o filme deixava a desejar, pela má qualidade do som e por não ter ação no palco.

A independência do musical e sua revitalização (inovação, agilidade de câmera e palco dinâmico) chega a partir de “A Rua 42” de 1933, direção de Lloyd Bacon, com as coreografias de Busby Berkeley, famoso diretor de dança e criador de muitos espetáculos coreográficos nas telas do cinema, entre eles: “Gold Diggers of 1933” (1933), onde o coreógrafo dá um toque de mestre na coreografia geométrica “Remember my Forgotten Man” no final, provando que os musicais têm o poder de ser muito mais que uma simples diversão.; “ Footlight Parade” (1933), com o extravagante número “By a Waterfall”; “Dames” (1934), com a sublime canção de amor “I Only Have Eyes For You”; “Gold Diggers of 1935” (1935), com o inesquecível “Lullaby of Broadway”; “The Gang’s All Here” (1943), com Carmen Miranda no número “The Lady with the Tutti Frutti Hat” ; “Babe in Arms” (1939), “Strike up the Band” (1940), “Babes on Broadway” (1941) e “Girl Crazy” (1943), todos com a espetacular dupla Mickey Rooney e Judy Garland; “For me and my Gal”(1942), com Gene Kelly debutando nas telas; “Milion Dollar Mermaid” (1949), com a bela “sereia” Esther Williams.
Em “A Rua 42”, o sensacional e inovativo Busby Berkeley dá um show monocromático, criando números de danças imortais com as suas dezenas de bailarinas em formações geométricas, vistas de ângulos inusitados formando um sensacional caleidoscópio ritmico.

Após ver do que Berkeley era capaz de criar, Warner Bros contratou-o e deu a ele carta branca.

O filme retrata o trabalho duro de toda uma equipe envolvida em um espetáculo musical, enfatizando como era duro conseguir um emprego e fazer dinheiro em uma época de depressão econômica, como também conta a história de uma iniciante que em poucas horas se torna uma estrela do show business.

O enredo mostra interessantes arquetipos como: o estressado e indisposto diretor sempre gritando com a sua companhia, a corista inocente lançada ao estrelato, o incrível e apaixonado tenor, o assediado coreógrafo, a estrela temperamental envolvida em romance clandestine com o “vaudevillian” sedutor , o produtor em apuros financeiros, as apimentadas dançarinas.

O elenco é notável: o maravilhoso Warner Baxter já havia ganho um Oscar de Melhor Ator por “Old Arizona”(1928), com seu rápido herói-bandido “The Cisco Kid”; Bebe Daniels era uma estrela top star dos filmes mudos que também sabia cantar; George Brent era um romântico estabelecido. Metade dos principais atores eram rostos populares, incluindo Ginger Rogers que veio a se tornar parceira de Fred Astaire em muitos outors famosos musicais. Dick Powell, talentoso tenor e instrumentalista, com seu estilo charmoso rapidamente se tronou o astro mais importante dos musicais. Estrelou junto com Ruby Keeler em “A Rua 42” e com a mesma fez mais de seis musicais, foi um dos que teve sua carreira projetada por esta película. A grande descoberta foi Ruby Keeler em sua estréia de carreira, queridinha da Boadway e esposa de Al Jolson(“O Cantor de Jazz”), era adorável, além de saber sapatear, tinha uma doce vivacidade e inocência otimista. Berkeley criou para ela números de danças memoráveis, onde a mesma dança no topo de um taxi e se balança em arranha-céus de Manhattan.

“A Rua 42” faturou $2.5 milhões de dólares e foi considerado como “o milagre do entretenimento de 1933”, além de ter recebido duas indicações para o Oscar, Melhor Filme e Melhor Som.

Vale a pena conferir as inesquecíveis coreografias de Busby Berkeley aos som das canções “Shuffle off to Buffalo”, Young and Health” e 42nd Street” dos compositores Al Dubin e Harry Warren.


Sinopse:

Diretor Julian Marsh (Warner Baxter) e produtor Abner Dillon (Guy Kibbee) anunciam que vão produzir um show na Broadway, no teatro da Rua 42, Nova Iorque.
A comédia musical “Pretty Lady” começa a ser montada. Peggy Sawyer (Ruby Keeler), recentemente chegada na Big Apple, consegue um trabalho para a coreografia do musical “Pretty Lady”. A estrela principal do show Dorothy Brock (Bebe Daniels) quebra o tornozelo na noite em que antecede a abertura do show.
Então, a novata Peggy, indicada por membro do elenco, é colocada para estrelar o espetáculo por sua habilidade em cantar e dançar. Para isso, em poucas horas, ela passa por um intenso treinamento que a leva à exaustão. Toda a companhia está apostando em seu talento, o stresse da moça ainda é maior, porque o sucesso do show depende da sua performance. Bravamente a jovem estréia e é um enorme sucesso.


Curiosidade:

A Rua 42 é a maior rua de travessia situada em Manhattan, no Condado de Nova Iorque. Além de ser bastante movimentada por seus teatros, está próxima à conexão com a Broadway e juncão com a Times Square. É também o nome de uma região conhecida como “the red light district” (famosa por prostituição e indústria do sexo). A rua alinha alguns dos prédios mais importantes de Nova Iorque, incluindo o Chysler, A Grande Estação Central entre outros.,

FICHA TÉCNICA:

42ND STREET / A RUA 42
EUA (Warner Brothers) 89 m, preto e branco.
Direção: Lloyd Bacon.
Produtores: Hall B. Wallis, Darryl F. Zanuck
Coreografia: Busby Berkeley
Roteiro: Rian James, James Seymour, baseado no romance de Bradford Ropes.
Fotografia: Sol Polito
Figurino: Orry Kelly
Música: Harry Warren, Al Bubin
Elenco: Warner Baxter, Bebe Daniels, George Brent, Ruby Keeler, Guy Kibbee, Una Merkel, Ginger Rogers, Ned Sparks, Dick Powell, Allen Jenkins, Edward J. Nugent, Robert Mcwade, George E. Sotne.
Indicações para o Oscar: Hall B. Wallis, Darryul F. Zanuck (melhor filme), Nathan Levinson (som).

nota 7.8
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