quinta-feira, 12 de novembro de 2009

038. A TURBA (1928)



Todo pai sonha com um “futuro brilhante” para o filho. Não poderia ser diferente o caso do sr. Sims. Ao tomar seu bebê recém-nascido no colo, a quem dá o nome de John, ele avisa: “O mundo irá falar deste menino”. Os anos se passam, o sr. Sims está morto, e John, agora adulto, decide que é hora de partir para a cidade grande atrás do “futuro brilhante” idealizado pelo pai. Nova York surge como um mundo repleto de oportunidades, e John aguarda a sua.

Com a obra-prima A Turba, o diretor King Vidor resolveu exibir o lado mais duro e cruel da vida. Primeiro assunto exposto: a enorme competição no mercado de trabalho. Em seguida, o matrimônio e suas implicações. Tudo isso sem nenhum pingo do ingênuo romantismo que tanto exalavam os filmes mudos americanos da década de 20. Visto hoje, quase oito décadas após ter sido realizado, o filme ainda conserva muita força e emoção, e há dois grandes motivos para isso: o elenco impecável e o roteiro bem-construído.

Chegado em Nova York, John Sims é apenas mais uma dentre milhões e milhões de pessoas em busca de um sonho, de um “futuro brilhante”. Encantado, ele observa os prédios que parecem não ter fim. É de um desses edifícios que sai uma garota chamada Mary, com quem John se casa algum tempo depois. O rapaz trabalha em um escritório de contabilidade, não ganha muito, mas garante à companheira que o "amanhã" será bem mais promissor. Os anos se passam, e a oportunidade da qual ele fala incessantemente jamais lhe dá as caras. O que consegue é um aumento de 8 dólares e duas bocas a mais para alimentar...

A vaidade e a confiança inicial de John Sims faz dele um sujeito pretensioso e janota. Ele ri de um homem que trabalha na rua segurando anúncios vestido de palhaço, sem imaginar que um dia ele seria obrigado a fazer o mesmo para sobreviver. O orgulho também o faz recusar uma oferta de trabalho proposta pelos cunhados, embora John estivesse numa das fases mais problemáticas de sua vida (o casamento, por um fio; a situação financeira, constrangedora). Até mesmo quando, por sorte, ele consegue vencer um concurso de “slogans” e recebe um bom prêmio em dinheiro, algo terrível lhe acontece (o que não pretendo revelar aqui).

Foram necessários alguns anos de sofrimento e desilusões para que John finalmente se rendesse e deixasse de lado a vaidade ridícula que o acompanhava desde a infância. O final feliz e redentor da trama, no entanto, foi imposto pelos estúdios MGM, uma vez que a audiência reprovara o desfecho original em exibições-teste, antes do lançamento.

Convém destacar o fascinante modo como King Vidor dispõe as imagens em seu filme. As janelas dos arranha-céus transformam-se em múltiplas fileiras de mesas, revelando o simétrico e frio interior daqueles prédios. O close dos protagonistas em um passeio de bonde contrasta com os milhares de pedestres sem rosto que lotam as ruas da cidade. O néon de um parque de diversões emoldura os personagens em uma das raras cenas felizes da obra. A imagem de um cemitério, com as lápides distribuídas igual a um jogo de dominó, antecede uma seqüência com homens formando filas de desempregados. E tem ainda o plano final, quando a câmera passeia por cima de uma infinita platéia que assiste a um espetáculo circense. Grande trabalho do diretor de fotografia Henry Sharp, que trabalharia nos anos seguintes em produções como Diabo a Quatro e Negócios da China.

O curioso é que, na vida real, o ator James Murray também teve uma biografia repleta de tragédias e sofrimento, tal qual a de John Sims, seu personagem em A Turba. Trabalhou como lavador de pratos, motorista de táxi e fez figuração em alguns filmes da MGM, até que, num belo dia, foi chamado para fazer um teste para o cineasta King Vidor, que em 1925 ganhara fama mundial com o épico de guerra O Grande Desfile (o filme mudo mais lucrativo de todos os tempos!). Murray, como já se sabe, conseguiu o papel principal de A Turba, contudo, nos anos seguintes, sua carreira foi minguando para papéis cada vez mais insignificantes. Virou alcoólatra e passou a recusar ofertas de trabalho por puro esnobismo. Ao contrário de John Sims, não teve um final feliz. O corpo do ator foi encontrado por pescadores no rio Hudson, em 1936. Até hoje, não se sabe se o afogamento de James Murray foi um acidente, um assassinato ou um suicídio. Morria um jovem ator com um “futuro brilhante”. Infelizmente, ele não soube aproveitar a oportunidade que lhe fora ofertada. Nem o pai de John Sims sonharia com uma oportunidade daquela para o filho. Teria ele aproveitado o bastante se ganhasse uma?



http://www.imdb.com/title/tt0018806/

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