quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

132. JEJUM DE AMOR (1940)



Não se fazem mais filmes como antigamente. Tudo bem, este é um clichê utilizado por saudosistas da “época de ouro” de Hollywood para falar mal das produções atuais, mas o fato é que não deixa de ser verdade. Algumas características presentes no cinema dos anos trinta, quarenta e cinqüenta perderam-se no tempo, sendo praticamente impossível encontrá-las em filmes realizados nos dias de hoje.

Um destes pontos fortes de produções que marcaram época é a incessante troca de diálogos entre os personagens. Como se não houvesse tempo para reflexão ou pensar no que dizer, os atores emendavam uma fala após a outra, criando uma dinâmica deliciosa em cena que, se por vezes exalava artificialidade, transmitia um charme praticamente irresistível.

Uma das primeiras e maiores referências neste sentido é Jejum de Amor, comédia dirigida em 1940 por Howard Hawks e escrita por Charles Lederer a partir de uma peça de Ben Hecht e Charles MacArthur. O filme conta a história de Hildy Johnson, uma ex-repórter que volta ao jornal onde trabalhava para anunciar ao ex-marido e editor da publicação, Walter Burns, que está prestes a casar. Burns sente-se incomodado com a idéia e usa seu poder de manipulação e contatos para fazer com que Hildy desista do casamento e volte a trabalhar no jornal.

Esta é a trama utilizada por Hawks para a divertida comédia romântica que é Jejum de Amor. Mesmo com um casal de protagonistas em grande sintonia e um enredo apropriado para críticas ao mundo do jornalismo, o filme ganha destaque mesmo em função de seus diálogos. A velocidade com que as falas saem das bocas dos personagens é impressionante. Parece não haver um segundo de silêncio e chega a dar a impressão de que alguns diálogos se sobrepõem a outros.

E o melhor é que estes diálogos são, em sua grande maioria, afiadíssimos. Esta, aliás, é outra característica dos filmes da época também defendida de maneira justa por Jejum de Amor. Seja nas trocas de farpas entre os protagonistas (“Você é maravilhoso, mas de um modo odioso”), nas críticas ao jornalismo (“Eles são inumanos”, diz uma personagem, ao que outra responde: “É claro, são jornalistas”) e até nas improvisações (quando alguém pergunta a Grant com quem o personagem de Bellamy se parece, ele responde: “Com aquele ator, Bellamy”), o texto de Lederer é inspirado e repleto de grandes sacadas.

Como resultado, o filme prende a atenção do espectador desde o início, uma vez que a troca de palavras não pára e sempre consegue manter a qualidade. Muito disso deve-se à excelente química entre Cary Grant e Rosalind Russell. Charmosamente canalha, Grant constrói um personagem repleto de defeitos, mas do qual é impossível não gostar, enquanto Russell diverte-se no papel da inteligente Hildy. Os momentos nos quais os dois dividem a tela são os melhores de Jejum de Amor.

Por essa razão, a obra acaba perdendo boa parte de seu apelo nos momentos intermediários. É uma pena que Hawks dê tanto espaço para a trama envolvendo o condenado Earl Williams ao invés de explorar o relacionamento entre Walter Burns e Hildy Johnson. Claro que este enredo é fundamental à reaproximação dos dois e dá ensejo às críticas ao jornalismo - ainda que estas sejam mais tímidas e comportadas do que poderiam ser -, mas poderia ser reduzido, deixando a história de amor como ponto principal.

Esta opção de Hawks, inclusive, prejudica a percepção da platéia de que os dois protagonistas possam formar um casal. Jejum de Amor é uma comédia, tudo bem, mas mesmo uma comédia com estes objetivos precisa convencer o espectador daquilo que o casal sente um pelo outro. Isto não acontece, pois a reaproximação de Burns e Hildy é feita aos pulos, sem o crescimento gradual.

Graças a este problema narrativo, Jejum de Amor está longe dos melhores trabalhos de Howard Hawks. Ainda assim, é uma comédia romântica divertidíssima e com diversas qualidades, capaz de despertar risadas e saciar o desejo daquele espectador que sente falta de diálogos inteligentes. Mais do que tudo, Jejum de Amor possui características peculiares que o colocam como representante digno de uma época perdida no cinema.

Por Silvio Pilau
Sinopse:
Jejum de Amor, considerada uma das grandes comédias da história do cinema, estreou em 18 de janeiro de 1940. Baseado em A Primeira Página, comédia teatral de Bem Hecht e Charles McArthur, roteiristas entre outros filmes de O Morro dos Ventos Uivantes (1939), foi adaptada para o cinema por Lewis Mileston em 1931 (The Front Page) e por Billy Wilder em 1974 (A Primeira Página). Jejum de Amor apresenta uma significativa mudança no roteiro original pela inclusão de uma personagem feminina na trama, Cary Grant é o diretor do jornal que se defronta com uma jornalista, Rosalind Russel, numa das melhores interpretações de sua carreira, numa visão ácida e própria das relações profissionais e amorosas

Ficha Técnica:
Título no Brasil: Jejum de Amor
Título Original: His Girl Friday
País de Origem: EUA
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 92 minutos
Ano de Lançamento: 1940
Estúdio/Distrib.: Columbia Home Video
Direção: Howard Hawks

Elenco:
Cary Grant .... Walter Burns
Rosalind Russell .... Hildegaard 'Hildy' Johnson
Ralph Bellamy .... Bruce Baldwin
Gene Lockhart .... Sheriff Peter B. 'Pinky' Hartwell
Porter Hall .... Murphy, reporter
Ernest Truex .... Roy V. Bensinger, Tribune reporter
Cliff Edwards .... Endicott, reporter
Clarence Kolb .... Fred, the Mayor
Roscoe Karns .... McCue, reporter
Frank Jenks .... Wilson, reporter
Regis Toomey .... Sanders, reporter
Abner Biberman .... Louis, small-time hood
Frank Orth .... Duffy, Morning Post copy editor
Helen Mack .... Molly Malloy
John Qualen .... Earl Williams

Dados Do Arquivo
Tamanho: 701 MB
Qualidade: DVDRip
Legenda: Pt-Br

Um comentário:

  1. Parabens pelo blog
    Parabens pelos Baús de Pérolas que deverão aguçar a cobiça dos Piratas da Cultura nesta grande oportunidade que a direção oferece o compartilhamento a todos nós navegadores àvidos
    de um Blog que possa nos ajudar por longo tempo
    com um batalhão de escudeiros da lei para vencermos a ganância comercial alheia aos intentos da dos criadores da internet que vislubraram a difusão da cultura para todos
    Antecipo agradecimentos por me enviar seus lançamentos
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